Flagelos
É inegável que as sociedades humanas atuais atravessam uma fase de violências e outros desvios, vícios que flagelam as comunidades.
O uso incontido de drogas, a truculência contra pessoas e instituições para obtenção de bens e vantagens, os desatinos sexuais constituem, entre outros, preocupações constantes pelo crescimento alarmante desses atos, que degradam as pessoas que os praticam.
Há, pois, necessidade imperiosa de encontrar os meios para pôr termo a esse estado de coisas. As raízes desses males são, entretanto, profundas. As injustiças sociais, a gerarem fome e miséria são, inquestionavelmente, causas primárias desses tormentos. Contudo, não se pode negar que a primeiríssima determinante dessas ocorrências desastrosas é o afastamento da criatura de seu Criador. As religiões se mostram impotentes e incompetentes na condução do rebanho de almas. Elas mesmas, as religiões, não se entendem entre si e não apresentam a seus adeptos a solução para as angústias, aspirações e incertezas na penosa estrada humana, juncada de sofrimentos e vicissitudes, do berço ao túmulo.
Os poderosos da Terra e os detentores de fortuna não compreenderam, ainda, os mecanismos que governam a vida, e os deserdados de meios e recursos não têm obtido acesso à porta de saída da ignorância. Uns e outros não perceberam que a solução está em Deus, nas Suas leis justas, sábias e misericordiosas, sobretudo naquela que é uma síntese de todas, a de amor, que foi ensinada por Jesus, o Filho de Deus.
Para pôr cobro a tais desatinos não são suficientes leis, nem homens e armas por mais numerosos que sejam, muito menos presídios cada vez mais aperfeiçoados e em maior quantidade. A tarefa a executar é outra. Será aquela de plantar a esperança no coração, de acender a luz do entendimento e de mostrar a Justiça incorruptível à consciência das criaturas desde tenra idade. E essa é uma tarefa das religiões, muitas das quais não alcançaram ainda a verdade da reencarnação, segundo a qual a vida não termina no túmulo, mas, depois dele, retomamos à carne para reiniciar a caminhada.
Aos governantes cabe a tarefa essencial de construir escolas e hospitais para não terem, no futuro, de investir recursos em armas e presídios. E as leis dos homens precisam, por sua vez, mais se aproximar das normas divinas e naturais para que possam apresentar relativa estabilidade e eficácia.
Enquanto não atingimos melhores estágios evolutivos, os que já compreenderam suas responsabilidades precisam se munir de fé e de coragem e formar contingentes de boa vontade que espalhem a luz que ilumina a estrada do bem comum.
Teria havido retrocesso na conduta moral do ser humano? Aparentemente, não deixa de apresentar certa lógica essa indagação, já que no passado, remoto ou recente, tais flagelos não existiam nas atuais proporções. Na verdade, porém, não há retrocesso. No passado também havia violência, crimes e desajuste social, mas as populações eram menores e os desajustados em menor número, eram contidos e, ademais, não possuíam o sentido de liberdade de que desfrutam hoje, infelizmente direcionado para a prática delituosa.
Quanto às drogas, o seu uso são desvios que o homem criou como forma de fuga. É tormenta e submissão ao vício. Favorecem o alastramento desses males a ganância, a cobiça, a sede do enriquecimento ainda que ilícito, a falta de esperança e de certeza na vida futura.
Ainda hoje o Espiritismo é combatido, velada ou ostensivamente, por ignorância, por má-fé ou de boa-fé. Quando o adversário está de boa-fé, se procurar inteirar-se dos fundamentos dessa Doutrina, da sua essência, da sua filosofia e da moral cristã, à luz do Consolador, certamente que a ela dificilmente se oporá. Poderá, mesmo, converter-se de adversário a adepto, à semelhança do que ocorreu outrora com Paulo de Tarso, o culto Apóstolo dos Gentios, antes perseguidor dos cristãos, porque a ninguém é vedado enxergar a luz, mesmo que lhe falte a visão do corpo físico.
O Espiritismo é a doutrina natural que esclarece e encaminha. Abre a cada um de nós a oportunidade de examinar seus postulados e discernir sobre eles. Não impõe a ninguém normas de conduta. Deixa a cada um o uso do livre-arbítrio que Deus outorgou ao homem. Como a luz do Sol que clareia a Terra, procura iluminar o caminho humano. Mostra o rumo certo para o alcance da felicidade e adverte quanto aos desvios que levam ao sofrimento e ao resgate.
Não se nega essa Doutrina a examinar qualquer questão que envolva o ser humano e para tanto conta sempre, em toda parte, com os seus seareiros, encarnados e desencarnados, prontos a ajudar no encaminhamento de soluções.
A força dessa Doutrina não é a imposição de idéias, mas o uso livre da razão. Faculta a cada um a escolha da obediência ou não às leis divinas, apenas advertindo quanto às conseqüências.
É fora de dúvida que em todos os tempos houve manifestações espíritas porque são elas inerentes à própria condição humana. Mas a essência filosófica da Doutrina, na qual reside a sua inquebrantável força é, ainda, muito pouco difundida e conhecida, dado o seu recente advento entre os homens. O número de seus seguidores sinceros e conscientes é, ainda, muito limitado, embora cresça a cada dia. Cada vez mais essa Doutrina envolve a consciência e a razão das criaturas porque atende aos anseios de felicidade comuns a todos. O adepto, ao plantar no coração a esperança, o faz com plena certeza e lógica, sabendo que alcançará um futuro ditoso. Por maiores que sejam a dor, a desilusão e a saudade, da criatura, a Doutrina proporciona-lhe o bálsamo da consolação que ameniza, esclarecendo que nada está perdido, tudo se renova, tudo se refaz.
Nenhum dos filhos de Deus foi criado para perder-se ou destruir-se. Por mais que se aproxime o comportamento humano das baixezas e das ações mais vis, como ora ocorre no mundo, haverá sempre a oportunidade da reparação. A misericórdia divina não tem limites, nem a Sabedoria Infinita jamais será impedida de exercer Sua soberana e amorosa justiça.
Ainda que falhem todas as religiões e todas as tentativas de qualquer procedência para o alcance da paz, mesmo assim nos restará a esperança na oferta de Jesus: "A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou."
Eis aí, em Jesus, no Seu Evangelho de Luz, nas Leis Naturais que o Espiritismo nos revela, as fontes onde devemos procurar a inspiração para sanar todos os flagelos que nos assaltam e nos afligem.
Muitas vezes as próprias religiões desvirtuam suas finalidades. Quando as práticas religiosas passam a usufruir vantagens pecuniárias, para o exercício de seus misteres, automaticamente se desviam do caráter de pureza com que devem ser tratadas as relações que envolvam a fé. Daí os abusos imperdoáveis que se verificam. É como se Deus outorgas-se a alguém poderes para intermediar o Seu relacionamento com os homens. São os vendilhões modernos dos templos a gerar na alma da criatura a desconfiança, muitas vezes com inteira procedência. Não há qualquer justificativa para a prática da simonia, em nome da fé. O exercício da caridade não admite paga e ninguém deve viver a expensas dos seus irmãos, em nome das coisas divinas.
Qualquer tarefa honesta já constitui uma forma de oração, mas as manifestações de fé e de amor a Deus e ao próximo devem permanecer sempre nos domínios do coração. Os valores do Espírito não podem ser confundidos com os da moeda. Quando se leva ao semelhante o alívio, a ajuda, o pão ou a moeda, tudo deve ter o inconfundível cunho do desinteresse pessoal e o imaculado caráter da caridade.
Quando começarmos a compreender que a conquista da felicidade começa na prática do bem, nos gestos de dar e não de receber, iniciaremos o processo de libertação dos vícios e dos sofrimentos que assolam e flagelam a sociedade humana.